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Coleções Zoológicas do INPA existem há 57 anos e representam a maior referência da biodiversidade da Amazônia. A finalidade das coleções é manter representantes da biodiversidade em excelentes condições, além de elaborar e manter bancos de dados para fins de pesquisa e testemunho da biodiversidade.
Entre 1963 e 1972 apenas 20 lotes de ácaros foram depositados nessas coleções. Após uma lacuna de 20 anos, entre 1992 e 1994 mais 141 lotes foram depositados e tombados. Desde 2007, existe um forte entrelaçamento do Programa de Pesquisa em Biodiversidade do MCT/INPA (PPBio) e do Centro de Pesquisa em Biodiversidade (INCT/CENBAM) com as Coleções Zoológicas do INPA. Com isso, está havendo um enorme incremento de material depositado, além da capacitação técnica de pessoal. Grande parte desse material tombado estava nos laboratórios dos pesquisadores. Com a ação promovida pelos dois grandes programas, houve o investimento em recursos humanos, principalmente bolsistas de nível técnico, propiciando a integração deles com os pesquisadores no resgate e na preparação do material para depósito nas coleções. Desse modo, após mais uma lacuna de 13 anos, entre 2007 e 2011 houve um enorme incremento através de 1.807 lotes depositados e tombados.
De fato, a intervenção do PPBio e a atuação de técnicos responsáveis, foram peças-chave no processamento do material. Atualmente, a coleção de Acari do INPA abriga um acervo de 16.355 espécimes distribuídos em 1.968 lotes. O material depositado é proveniente de florestas tropicais de terra firme primárias e secundárias, savanas, policultivos de madeira, florestas inundáveis de várzea e igapó da Amazônia brasileira. Ainda existem poucos indivíduos provenientes de São Paulo (63 espécimes), do Ceará (14 espécimes), de Pernambuco (4 espécimes), do Acre e do Distrito Federal (10 espécimes). A coleção também conta com espécimes provenientes da África do Sul e Nigéria. Os métodos de coleta utilizados foram extratores de Kempson e de Berlese-Tullgren, flotação, gaiola com serrapilheira, draga de Ekman-Birge, raspagem em troncos e coleta e catação manual nas folhas, na serrapilheira e no solo. Os meios de preservação mais utilizados são o líquido de Hoyer, o fluído de Koenike e álcool 75%. Devido a grande quantidade de ácaros oribatídeos, a coleção está dividida em “Acari Oribatida” e “Acari não-Oribatida”. Entre os não-Oribatida estão os Ixodidae (carrapatos), Mesostigmata, Prostigmata e Trombidiformes. Os Ixodidae somam 3.364 indivíduos, distribuídos em cinco gêneros e 19 espécies/morfoespécies. O gênero mais abundante é Amblyomma, com 11 espécies/morfoespécies. As espécies mais abundantes são Amblyomma sp.1 e A. geayi, 1.501 e 1.362 indivíduos, respectivamente. Os Mesostigmata depositados estão divididos em cinco famílias, 17 gêneros e 23 espécies. Existem três famílias e três espécies de Prostigmata e quatro famílias, oito gêneros e oito espécies de Trombidiformes depositadas nas coleções. Entre os Trombidiformes, os Tenuipalpidae estão representados por Brevipalpus phoenicis (253 espécimes); 210 espécimes de Phyllocoptruta oleivora e 39 espécimes de Tegolophus brunneus representam os Eriophyidae; Daidalotarsonemus sp. 1 eTarsonemus sp. 1, com 57 e 80 exemplares, respectivamente, representam os Tarsonemidae; os Tetranychidae estão representados por Panonychus citri e Olygonychus sp. 1 (cada uma com 91 indivíduos) e Tetranychus sp. 1, com apenas um espécime. Os Oribatida são os mais representativos na coleção, com 11.958 indivíduos, distribuídos em 69 famílias, 159 gêneros e 359 táxons composto por 171 (47,6%) espécies e 188 (52,3%) morfoespécies.
A boa definição taxonômica dos ácaros oribatídeos reflete as pesquisas e trabalhos de especialistas que contribuíram desde a fundação do instituto, como os Drs. Herbert Otto Roger Schubart, Ludwig Beck e Stefan Woas. A família de Oribatida mais bem representada é Oppiidae com 24 gêneros, seguida de Microzetidae com oito gêneros, Haplozetidae e Carabodidae com cinco gêneros cada. Os gêneros mais representativos são Galumna (25 espécies), Scheloribates (18 espécies), Rostrozetes (17 espécies), Oppia e Suctobelbella com oito espécies cada. As espécies com maior número de espécimes depositados são Rhysotritia brasiliana, Rostrozetes foveolatus, Xylobates capucinus e Schalleria cruciata, com 661, 557, 343 e 233 indivíduos, respectivamente. Os morfotipos mais abundantes são Scheloribates sp. 1, Paralamellobates sp. 1, Eporibatula sp. 1 e Galumna sp. A, com 1871, 1069, 753 e 469 indivíduos, respectivamente. Existem 16 holótipos e parátipos de ácaros oribatídeos depositados na coleção de ácaros do INPA. Outros lotes, com indivíduos classificados até Subordem Oribatida, oriundos de várias localidades do Amazonas, Roraima e Rondônia estão sendo preparados para serem depositados.
A coleção de ácaros continua com excelentes perspectivas de crescimento com acréscimo de material proveniente de fragmentos de floresta em uma região de savana da Amazônia Oriental (Alter do Chão, Pará) composto por 156 espécies/morfoespécies de ácaros oribatídeos. Toda a coleção de ácaros está à disposição de outros pesquisadores e poderá servir como excelente material para revisão taxonômica e descrição de novas espécies. Especificamente para os ácaros oribatídeos, o processo de depósito e tombamento é realizado em quatro etapas. Na primeira etapa, é efetuada uma revisão minuciosa do material a ser depositado. A etiqueta original é preservada, mas outra etiqueta com maiores informações é acrescentada (coordenadas geográficas, local e data da coleta, nome da espécie, meio de preservação, etc., e o número do tombamento no INPA). A segunda etapa consiste na elaboração de uma planilha de tombamento para disponibilização aos demais pesquisadores da rede Mo Porã (
http://www.lba.inpa.gov.br/mopora/#). Mo Porã, que em Guarani significa “guardar em lugar seguro”, é um software livre criado por Laurindo Campos do PPBio, Kleberson Serique e Jair Maia do LBA (Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia), com financiamento FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos/MCT) e FAPEAM (Fundação de Amparo a Pesquisa do estado do Amazonas). O software integra as informações de grandes projetos de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, Geoma, Rede CTPetro Amazônia e PPBio, e promove o compartilhamento de informações dos grupos de pesquisa. Numa terceira etapa, o material tombado é depositado nas Coleções zoológicas do INPA. Finalmente, numa quarta etapa, é efetuada a disponibilização de dados e dos metadados de ácaros oribatídeos ao público em geral em uma planilha adicional.
Esta planilha contém informações como o número da amostra, sítio de coleta, data da coleta, número de indivíduos e nome da espécie. A disponibilização dessas informações ao público tem como objetivo a integração de dados entre diversos pesquisadores possibilitando um melhor aproveitamento dos resultados. Por exemplo, a Reserva Ducke, em Manaus, possui um sistema de trilhas que corta toda a reserva de Norte a Sul e Leste a Oeste, com 72 parcelas de 250 m distribuídas a cada 1 km. A lista de frequência e abundância dos ácaros oribatídeos presentes em cada parcela da reserva está disponível. Esses dados podem ser correlacionados com as variáveis ambientais (química e física do solo, estrutura da vegetação, abertura do dossel, altura da serrapilheira, etc.) das mesmas parcelas, informações essas obtidas por outros times de pesquisadores. Todos esses banco de dados já estão disponibilizadas no site do PPBio (
ppbio.inpa.gov.br/repositorio/dados). Com financiamento do INCT/CENBAM, temos grandes perspectivas de crescimento para a coleção de ácaros oribatídeos. Até 2015 esperamos ter cerca de 3.000 lotes, com pelo menos 400 espécies ou morfoespécies, formando uma das coleções mais representativas do país.