Estudo sobre rede de interação aves frugívoras-plantas nas campinaranas é concluído nas parcelas do PPBio no Núcleo Regional Acre

O tema interação aves frugívoras-plantas em um enclave de campinarana no sudoeste da Amazônia (Mâncio Lima-Cruzeiro do Sul), foi alvo de um trabalho de mestrado desenvolvido em uma das áreas do PPBio e concluído por Maíra Santos Silva (Figura 1), discente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre.

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Figura 1

Maíra Santos em trabalho de campo na linha do PPBio, no complexo vegetacional sobre areia branca, Mâncio Lima-AC.

Na linha de 5 km estabelecida pelo Núcleo Regional Acre no complexo vegetacional sobre areia branca, Maíra empreendeu um esforço amostral de 135.000 h.m², 45.000 h.m² em cada uma das fitofisionomias estudas - campinarana arbustiva, na arbórea e na florestada (Figura 2) e capturou 396 aves e 49 espécies. Doze delas forneceram no material fecal, 921 sementes correspondentes à 54 táxons botânicos. Xenopipo atronitens, Lepidothrix coronata e Lanio surinamus (Figura 3) contribuíram com as maiores quantidades, respectivamente, 317, 314 e 155 sementes.

Embora a maior parte das sementes (62%) tenha sido amostrada na campinarana florestada, elas correspondem a apenas nove, dos 54 táxons botânicos identificados. Essa representatividade aumenta na campina arbórea (12 táxons), onde foram coletadas apenas 6% das sementes, e atinge o seu máximo (42 táxons) na campina arbustiva, onde ela amostrou 32% das sementes. Cerca de 33% do número total de sementes pertencem a Cecropia sp., mas quem apresentou o maior número de interações e o maior índice de importância foi Geonoma sp..

Mapa Vegetation types

Figura 2

Localização da linha de 5 km do PPBio no A) complexo vegetacional sobre areia branca e as fitofisionomias estudadas: B) campinarana arbórea, C) campinanara arbustiva e D) campinarana florestada. Comunidade Santa Bárbara, Mâncio Lima-AC.

Birds

Figura 3

Espécies de aves que forneceram o maior número de sementes no material fecal: A: Xenopipo atronitens (macho); B: Lepidothrix coronata (fêmea); C: Lanio surinamus (macho).

 

De 648 interações possíveis, Maíra registrou 77 (Figura 4): 53 na campinarana arbustiva, 13 na arbórea e 11 na florestada, porém, tanto no complexo vegetacional, como em cada uma das fitofisionomias, a rede possui conectância intermediária e aninhamento não significativo. Nessa rede, Xenopipo atronitens é a espécie mais importante e com o maior número de interações - 12 na campinarana arbórea e 34 na arbustiva -, enquanto Ceratopipra rubrocapilla e Lepidothrix coronata responderam pelo maior número de interações na campinarana florestada (três e duas, respectivamente).

Interaction A Interaction B
Interaction C Interaction D

Figura 4

Redes de interação ave frugívora-planta registradas no complexo vegetacional sobre areia branca (A) e, especificamente, na campinarana arbustiva (B), na arbórea (C) e na florestada (D), da região de Mâncio Lima-AC.

Maíra destaca que a dispersão de sementes por aves nas campinaranas, diferentemente de outros ambientes, ocorre mais comumente pelas espécies da família Pipridae, como, X. atronitens, uma espécie de ave com número elevado de interações e chave para o complexo sobre areia branca. O aninhamento não significativo pode estar atrelado à quantidade reduzida de espécies que formam a rede, ao tamanho reduzido da mancha de campinarana, ou ainda, à fragilidade deste tipo de ambiente.

O trabalho revela as interações entre aves frugívoras e plantas em um ambiente desprotegido e com resiliência baixa e evidencia as espécies consideradas “âncoras” para as demais espécies frugívoras/frutíferas da rede, e pode contribuir de forma relevante para com estratégias e iniciativas de conservação e de recuperação da cobertura vegetal.

Além do trabalho da Maíra, outra dissertação realizada em área do PPBio está por ser concluída e dois trabalhos de doutorado estão em andamento.