Mapas de solos são cruciais para modelagem de espécies na Amazônia, mas apresentam problemas.

Soil SamplingUma equipe internacional incluindo pesquisadores do PPBio, demonstrou que dados de solo são importantes ao modelar distribuições de espécies de plantas amazônicas. Para 40 das 42 espécies de plantas investigadas, os modelos baseados apenas em clima tiveram uma performance inferior aos modelos incluindo clima e solo e a área mapeada como habitat adequado às espécies foi muitas vezes superestimada. Eles também avaliaram que mesmo melhorando os modelos, os mapas de solo disponíveis contêm imprecisões significativas. Essa é provavelmente uma das razões para que a maioria dos modelos de distribuição de espécies enfatize a inclusão apenas de dados climáticos como camadas preditoras. Mapas de distribuição inadequados podem causar erros no planejamento da conservação.

Foto: Hanna Tuomisto

 

Um estudo liderado pelo Dr. Fernando Figueiredo do Instituto Nacional Pesquisas da Amazônia e do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) avaliou que combinações de dados climáticos e de solo podem prever melhor os lugares de provável ocorrência de um conjunto de espécies de plantas amazônicas.

 

Os modelos de distribuição geográfica de espécies são usados para prever onde as espécies provavelmente ocorrerão. Tradicionalmente, esses modelos baseiam-se na ideia de que a distribuição das espécies é principalmente controlada pelo clima. Mas isso parecia muito simplista para a Amazônia. Estudos anteriores mostraram que as plantas amazônicas possuem alta especificidade por diferentes tipos de solo. Portanto as condições edáficas locais são essenciais para determinar se uma espécie ocorre ou não em certas regiões.

 

"As diferenças entre mapas usando só clima e mapas incluindo solos e climas eram muito grandes. Os mapas, incluindo solo, foram quase sempre os mais precisos", diz Figueiredo. Além disso, todos os grupos de plantas incluídos no estudo deram resultados semelhantes – ervas, palmeiras, lianas e árvores. “Isso indica que os resultados são válidos para plantas em geral” acrescenta a Dra. Hanna Tuomisto, da Universidade de Turku, na Finlândia, que participou do estudo.

 

Os pesquisadores podem ter negligenciado os solos ao modelar as distribuições de espécies, em parte porque os dados climáticos de larga escala estão facilmente disponíveis a mais tempo. “Mapas de solo em larga-escala foram lançados mais recentemente, porém as variáveis apresentadas não refletem de maneira direta as características que as plantas respondem em ambiente natural", diz Dr. Gabriel Moulatlet, da Universidade de Turku. Ele liderou outro estudo que avaliou a qualidade de alguns mapas de solo digitais. "Nós encontramos problemas significativos nos mapas, e também que eles não possuem as informações ecologicamente mais relevantes", diz ele.

 

Segundo a pesquisadora do PPBio e da Coordenação de Ecologia do INPA, Dra. Flávia Costa, “essas conclusões só foram possíveis devido a existência de um banco de dados integrado como o do PPBio, que inclui não só os registros dos locais de ocorrência das espécies, mas também torna disponível à comunidade científica dados ambientais obtidos nos mesmos locais que as plantas foram coletadas, o que permite avaliar melhor os modelos”.

 

Cenários de mudança climática sugerem que partes da Amazônia estão se tornando mais secas e outras mais úmidas, e que portanto, as áreas climaticamente adequadas às plantas de floresta tropical podem estar se tornando menor ou mudando de lugar. “Além do clima, os diferentes solos também limitam a ocorrência de diferentes espécies. Portanto será difícil para as espécies rastrear e migrar para áreas onde todas as condições ambientais sejam adequadas para elas diante do aquecimento global” afirma Costa. Essas descobertas têm um grande impacto nas previsões para o futuro das plantas amazônicas, o planejamento de conservação precisa de modelos de distribuição de espécies que tenham em conta fatores edáficos e climáticos. Para a Dra. Gabriela Zuquim, atualmente na Universidade de Turku e colaboradora do PPBio, “a produção de modelos confiáveis é desafiadora e esses trabalhos representam um grande avanço".

Goeppertia loeseneri

 

Links para os artigos:

 

Figueiredo FOG, Zuquim G, Tuomisto H, Moulatlet GM, Balslev H & Costa FRC (2018). Beyond climate control on species range: The importance of soil data to predict distribution of Amazonian plant species. Journal of Biogeography. 45:190–200. https://doi.org/10.1111/jbi.13104

 

Moulatlet, GM, Zuquim, G, Figueiredo, FOG, Lehtonen, S, Emilio, T, Ruokolainen, K & Tuomisto, H (2017). Using digital soil maps to infer edaphic affinities of plant species in Amazonia: Problems and prospects. Ecolology and Evolution 7: 8463–8477. https://doi.org/10.1002/ece3.3242

 

 

Financiamento:

MCTI, CNPq, CAPES, FAPEAM, Academy of Finland, University of Turku Graduate School.

 

Goeppertia loeseneri. Foto: Fernando Figueiredo. 

 

 

Page Created by Tim Vincent 15.Fev.2018