Artigo publicado na revista “Journal of Avian Biology” aborda efeitos da malária aviária no uirapuru-de-coroa-azul, uma espécie de ave dançarina.

      O trabalho mostra os efeitos da malária aviária, infecção causada por protozoários do gênero Plasmodium, sobre o comportamento social do Lepidothrix coronata (Aves: Pipridae). 

Os pássaros desta espécie, conhecidos popularmente como “uirapuru-de-coroa-azul” ou “dançarino-de-coroa-azul” são famosos por realizarem exibições de danças para as fêmeas durante a estação reprodutiva. Essas danças são realizadas em poleiros de dança localizados dentro de locais tradicionais onde os machos agregam-se. Essas agregações, que podem ter entre um e sete machos adultos, são chamadas de leques. As fêmeas não participam dos leques, visitando-os apenas ocasionalmente, geralmente durante a estação reprodutiva.

      Os pesquisadores observaram que a prevalência total de malária aviária (% de indivíduos infectados/total de indivíduos amostrados) foi de 47% no uirapuru-de-coroa-azul. Entretanto, a prevalência de malária dentro de cada leque variou. Em leques com uma alta prevalência de malária aviária, as taxas de vocalização e dança foram menores se comparados aos leques onde a prevalência foi menor. Dentro desses leques com alta prevalência de malária, os machos não infectados vocalizavam e dançavam mais se comparado aos infectados. Tais efeitos sobre os indivíduos hospedeiros possivelmente são relacionados à alta patogenicidade das linhagens de Plasmodium encontradas no sangue dos indivíduos.

      Além disso, os pesquisadores ainda observaram que as fêmeas do uirapuru-de-coroa-azul primeiramente escolhem os leques os quais irão visitar. Geralmente os mais visitados são os leques maiores, formados por um maior número de machos adultos.  Ao visitar leques maiores, as fêmeas poderão comparar o desempenho dos machos adultos durante as exibições de dança, e avaliar o quão coordenados esses indivíduos são. Dentro dos leques maiores, as fêmeas visitam os machos adultos que mais dançam, vocalizam, e interagem uns com os outros. Considerando que machos não infectados são mais ativos (porque dançam e cantam mais), e que fêmeas os visitam mais, é possível que os comportamentos de vocalização e de dança sejam sinais honestos, capazes de mostrar o quão saudável é o indivíduo, auxiliando assim na escolha da fêmea durante as visitas aos poleiros de dança.

      O trabalho faz parte da dissertação de mestrado de Mariane Bosholn, que teve orientação da Dr. Marina Anciães (INPA) e coorientação do Dr.Alan Fecchio (Academy of Natural Sciences of Drexel University). O artigo também teve a participação da Dra. Patricia Silveira e Dra. Érika Braga, do Laboratório de Malária da Universidade Federal de Minas Gerais.

      A versão online do trabalho está disponível online.

TEXTO: Mariane Bosholn

FOTOS: Marina Maximiano

Fêmea L. coronataMacho L. coronata

Fêmea e macho de Lepidothrix coronata, respectivamente.