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Artigo na Science tem contribuição de pesquisadores do PPBio/CENBAM


Novo estudo estima 16.000 espécies de árvores na Amazônia
A metade de todas as árvores pertence a somente 1% das espécies
 
Dados de pesquisadores do PPBio/CENBAM coletados ao longo da BR 319 e Reserva Ducke compuseram a rede de inventários florísticos que possibilitaram estimativas do número de espécies de árvores da Amazônia.
 
Especialistas de 120 instituições de todo o mundo, incluindo mais de 25 pesquisadores brasileiros, dão novas respostas para duas questões simples, mas antigas, sobre a diversidade amazônica – Quantas árvores e quantas espécies de árvores existem na Amazônia? O estudo foi publicado em 18 de outubro de 2013 na revista Science. 
 
A vastidão e a dificuldade de acesso da floresta amazônica têm historicamente restringido o estudo destas comunidades imensamente diversas de árvores a escalas locais e regionais. Esta falta de informação básica sobre a flora amazônica em larga escala tem sido uma barreira para a ciência e para os esforços de conservação da Amazônia. 
 
O estudo analisa dados compilados de 1.170 levantamentos florestais em todos os principais tipos florestais da Amazônia, para gerar a primeira estimativa de abundância, frequência e distribuição espacial em larga escala de milhares de árvores amazônicas. Extrapolações sugerem que a grande Amazônia, o que inclui toda a bacia amazônica e as Guianas, abriga cerca de 400 bilhões de árvores. 
 
O estudo foi liderado por Hans ter Steege, pesquisador do Naturalis Biodiversity Center, no sul da Holanda. “Acreditamos que existam cerca de 16.000 espécies de árvores na Amazônia, mas os dados também sugerem que a metade de todas as árvores da região pertence a somente 227 dessas espécies. Isso é muito menos do que qualquer previsão, e realmente simplifica o nosso trabalho” diz ter Steege. 
 
“Nós chamamos essas 227 espécies de ‘hiper-dominantes’”, diz Ken Feeley, professor de Biologia da Florida International University e pesquisador do Fairchild Tropical Botanical Garden. “A presença destas espécies hiper-dominantes talvez nos ajude a obter um entendimento razoável de como a Amazônia funciona, e mais importante, como irá ou não funcionar no futuro. Uma vez que entendemos a ecologia destas espécies, nós teremos pelo menos metade das peças necessárias para montar o quebra-cabeça que é a Amazônia.”
 
Os especialistas notam que os dados não revelam a razão pela qual as 227 espécies são hiper-dominantes. Entre as possíveis explicações, os autores sugerem que algumas espécies hiper-dominantes talvez sejam comuns por terem sido cultivadas pelos grupos indígenas antes de 1492, mas isso ainda é um assunto em discussão. 
 
Este é um assunto quente, que é o tópico central do estudo de doutorado de Carolina Levis, aluna do Programa de Pós-Graduação em Ecologia do INPA. Carolina está estudando as evidencias de uso de florestas por populações antigas na Amazônia e já concluiu que estas populações afetaram a composição de espécies pelo menos em uma das eco-regiões da Amazônia localizada no interflúvio entre os rios Purus e Madeira (veja em http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0048559). Agora este estudo será estendido sobre toda a bacia amazônica, usando dados do estudo de Ter Steege e colaboradores.
 
Em contraste com a presença dominante das hiper-dominantes, o estudo também indica que cerca de 6.000 espécies de árvores da Amazônia têm populações menores do que 1.000 indivíduos, o que automaticamente as qualificaria para inclusão na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). De fato, algumas dessas espécies são tão raras, que os cientistas talvez nunca as encontre. Miles Silman, um ecólogo da Wake Forest University e co-autor do trabalho, chama esse fenômeno de "matéria escura da biodiversidade".
 
Mapa das 1430 parcelas da Amazon Tree Diversity Network (ATDN) que contríbuiram com dados para o presente artigo.
 
“Dois terços das espécies de árvores da Amazônia são mais difíceis de encontrar do que uma agulha num palheiro. Esta é a mesma situação na cosmologia, onde nós sabemos que existe muito material no universo que não podemos ver. Os físicos chamam isso de ‘matéria escura’. Na Amazônia sabemos que estas espécies super-raras representam uma grande parte do sistema, mas encontrá-las é difícil mesmo” diz Silman.
 
Enquanto a descoberta das espécies hiper-dominantes fornece conhecimento e compreensão sobre a diversidade contida na Amazônia, os autores têm cautela em colocar muito ênfase nela. As hiper-dominantes sozinhas são suficientes para suportar a grande variedade de ecossistemas da Amazônia? Ou são os outros 99% das espécies de árvores os que desempenham o papel mais importante na malha de interações da floresta mais diversa do mundo, sem que o sistema inteiro colapse?
 
“Se temos esperanças de entender e proteger espécies raras, e consequentemente toda a diversidade da floresta tropical, nós vamos necessitar muito mais que 1.000 levantamentos florestais” diz Feeley. 
 
“Não é só o número de inventários florestais que precisamos aumentar e mas também sua cobertura geográfica. Os levantamentos florestais precisam cobrir as áreas conhecidas como “buracos de amostragem” da Amazônia, onde nenhuma ou quase nenhuma pesquisa foi feita até hoje, diz Flávia Costa, pesquisadora do INPA. A pesquisadora ainda ressalta que “Outr a lacuna está em dar nome para as árvores encontradas nos inventários. . Para vencer os desafios de identificar espécies na Amazônia, um investimento grande em recursos humanos, capacitação e infra-estrutura de pesquisa precisa ser feito nas instituições amazônicas. Inovação também pode encurtar caminhos. Nós temos tecnologia para revolucionar o processo de identificação de espécies, mas não temos tido o investimento necessário para transformar o INPA na sede desta revolução. As agências financiadoras ainda não abriram os olhos para essa grande oportunidade e espero que isso aconteça tarde demais.”
 
Artigo na íntegra