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Resultados indicam que o manejo de baixo impacto provoca menos danos para os peixes em relação a outros tipos de atividade madeireira
Por: Murilo Sversut Dias e Jansen Zuanon
Cada vez mais, alternativas menos danosas ao ambiente são preferidas quando o assunto é a exploração de recursos naturais. O manejo florestal de baixo impacto (MFBI) é uma forma de exploração madeireira que visa diminuir a área de floresta danificada através de técnicas e critérios rígidos. Assim, as árvores remanescentes sobrevivem e são capazes de gerar indivíduos jovens que ocuparão a área onde a tora foi retirada. O MFBI tem ganhado força com a “onda da sustentabilidade” que influencia o mundo, pois é uma atividade que busca conciliar exploração da floresta com a conservação da natureza. Por isso, estudos sobre os efeitos do MFBI na biodiversidade são extremamente relevantes para avaliar a efetividade dessa técnica como alternativa conservacionista.
Mas o que o manejo florestal tem a ver com os igarapés e os peixes? Os igarapés (ou riachos) são pequenos corpos d’água que drenam a água da floresta para os principais rios. Por serem sombreados pela floresta, os igarapés e seus organismos dependem da matéria orgânica que cai da floresta. Por exemplo, troncos caídos nos igarapés formam trechos de águas lentas e profundas que são habitados por algumas espécies de bagres. Por causa dessa estreita relação, uma alteração na floresta é sentida também pelos organismos que vivem nos igarapés.
Características dos igarapés são importantes para a sobrevivência das espécies de peixes
Pensando nisso, os pesquisadores Murilo S. Dias, William Magnusson e Jansen Zuanon do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realizaram um estudo para quantificar os danos causados pelo MFBI nos igarapés e seus possíveis efeitos sobre os peixes. Os autores compararam igarapés antes e depois do manejo (efeitos em curto prazo) e igarapés em áreas manejadas e não manejadas (efeitos em longo prazo). O trabalho, que faz parte do Projeto Igarapés, coordenado por Zuanon, e do PPBio, coordenado por Magnusson, foi realizado em parceria com a empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda. (Grupo Precious Woods), localizada na cidade de Itacoatiara (AM) e o resultado foi surpreendente.
Algumas espécies de peixes foram mais abundantes nos igarapés após o manejo. Por exemplo, um peixe popularmente conhecido como “acará” foi cinco vezes mais abundante nos igarapés após a área ser manejada. Porém, antes ou depois do manejo, as espécies encontradas foram praticamente as mesmas. Em longo prazo, as espécies das áreas manejadas possuíram mais indivíduos quando comparadas às espécies das áreas controle. Porém, a composição de espécie presente em ambas as áreas também foi muito parecida.
Estudos em outros países revelaram que a remoção da floresta adjacente aos igarapés causa uma grande perda de espécies de peixes. Porém, o estudo realizado por Murilo e colaboradores evidenciou que o MFBI, se bem conduzido, minimiza os efeitos negativos da extração madeireira sobre os igarapés, pois os efeitos encontrados foram menos danosos comparados às outras práticas florestais comuns na região, como o desmatamento.
Os pesquisadores acreditam que o manejo florestal deve ser baseado em técnicas que evitem a perda de espécies. Entretanto, não é possível saber se as técnicas de manejo florestal protegerão toda a biodiversidade. É necessário que as empresas, além de realizarem técnicas menos danosas, invistam em pesquisa e no monitoramento da biodiversidade, com o intuito de detectar e, se necessário, minimizar os impactos nos organismos e nos processos ecológicos do ambiente. Aproximar a ciência dos interesses de mercado é o melhor caminho para o desenvolvimento “sustentável” que o mundo tanto almeja.
Para acessar o estudo completo, clique aqui.
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