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Pesquisadora do PPBio/CENBAM e pesquisadores da Alemanha tentam identificar o aracnídeo gigante sem nome

Entre os dias 16-18/10/2012 o foco dos sites da internet e das redes sociais se voltaram para  uma notícia que fugiu um pouco do normal, não era sobre sobre artistas do cinema ou cantores famosos. A notícia em questão tratava de um grupo de aracnídeos chamados  opilões, pouco conhecido pelo público, mas muito comum e diverso em nosso país. Esse opilião em especial ficou famoso por ser um dos maiores exemplares de opiliões já encontrados no mundo, porém ele ainda não foi batizado, ou seja, permanece sem nome.

 
O Dr Peter Jäger, curador da coleção de aracnídeos do Senckenberg Research Institute em Frankfurt, Alemanha, coletou alguns desses animais durante uma filmagem em Laos.  Ao chegar em seu laboratório e realizar o procedimento de triagem e reconhecimento dos exemplares coletados, ele se surpreendeu com um dos indivíduos da ordem Opiliones (uma dentre as outras 11 ordens reconhecidas para os aracnídeos) pelo tamanho avantajado e também das pernas mais longas do que o comum. Logo ao checar que o comprimento total do seu opilião era de mais de 33 cm, levando em consideração as pernas mais longas, ele notou que o animal estava entre os maiores dessa ordem já coletados. O record para o maior opilião do mundo é da América do Sul, com as espécies da família Gonyleptidae (Mitobates triangulus chega medir 34,2 cm). 
 
 
O Dr Jäger é especialista em aranhas, por isso ele não pode avançar muito além na tarefa de dar um nome para a espécie de opilião. Mas ele contou com a ajuda da especialista na ordem Dra Ana Lúcia Tourinho, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, do Programa de Pesquisas em Biodiversidade – PPBio, que estava em seu laboratório em visita científica para estudar os opiliões de sua coleção. Após examinar o exemplar ela constatou que era um exemplar da família Sclerosomatidae, da subfamília Gagrellinae, talvez do gênero Gagrella, “seja lá o que Gagrella for”, disse a especialista. 
 
Em entrevista para os jornalistas o Dr Jäger e a Dra Tourinho explicaram porque está sendo tão difícil para os especialistas identificarem esse exemplar. “Esse é um grupo difícil, não há muita variação externa, e a situação taxonômica imposta por sistemas de classificação construídos há muitas décadas atrás é caótica, precisamos de revisões”, diz a especialista, que trabalhou em  seu mestrado e doutorado com essa família.  “Um dos principais motivos para estarmos ainda lidando com essa situação complicada é a falta de taxonômos especialistas em opiliões atuando na fauna do Velho Mundo, isso aconteceu por falta de incentivo e recurso para a formação de novos especialistas em taxonomia, o Velho mundo está perdendo a sua excelência no grupo. O Brasil tem a sorte de contar com um número um pouco maior de especialistas em opiliões”. 
 
A pesquisadora esclarece que apesar do Brasil ter um número um pouco maior de especialistas a situação está longe de satisfatória, “temos uma diversidade imensa, a maioria das nossas espécies dessa família ainda não foram descritas, há gêneros e até famílias novas sendo descobertos hoje em dia. A Amazônia, por exemplo, possui apenas um especialista taxônomo empregado e mesmo assim ele trabalha com aranhas. Locais sem especialistas acabam ficando com a sua diversidade subestimada e enfrentando problemas de reconhecimento de sua própria fauna, como ocorreu com a espécie gigante de Laos, achados importantes e maravilhosos ficam escondidos entre o material ordinário e perde-se o potêncial e valor agregado a ele  por falta de pesquisa, revisões e publicações.”
 
O parceiro da pesquisadora acha que o aumento no financiamento para a taxonomia descritiva deveria ocorrer na Europa e Asia, lá eles sofrem o perigo do desaparecimento desse ramo da pesquisa tão bem estabelecido, uma vez que os recursos são geralmente associados a pesquisas envolvendo genoma e filogenia molecular. Ele lembra que a taxonomia necessita de bem menos recurso para existir, “um cientista desse ramo precisa de uma lupa e um lápis. Ele mede, ele desenha e publica, não precisamos de muito! Os homens vão a Marte, mas ainda são incapazes de identificar um dos maiores espécimens em seu próprio planeta ” ele diz.
 
Entretanto os pesquisadores estão otimistas em relação ao futuro e têm planos para o aracnídeo gigante sem nome, Ana Lúcia em conjunto com Dr Peter Jäger e seus colaboradores chineses e japoneses vão tentar implementar um projeto de pesquisa colaborativa e obter recursos das agências de financiamento, eles já começaram a discutir a proposta, mas detalhes finais ainda serão discutidos nas próximas semanas, em uma reunião que acontecerá em Laos. A visita da pesquisadora aos museus na Alemanha foi financiada pelo Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica – CENBAM (INCT/CNPq/FAPEAM) e pelo projeto da qual é bolsista PNPD-CAPES.
 
 
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