Pesquisadores fazem inclusão científica de comunidades ao longo da rodovia Porto Velho-Manaus
Uma equipe de 17 pesquisadores faz um levantamento da biodiversidade, monitora e avalia os impactos ambientais do asfaltamento da rodovia federal (BR-319) que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM) e ainda realiza um trabalho que busca promover a inclusão científica de comunidades rurais que residem ao longo da estrada no Amazonas.
O projeto é coordenado pelo pesquisador William Ernest Magnusson, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e conta com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), por meio do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).
Obra polêmica
A reconstrução da BR-319 causa muita polêmica por causa dos riscos ambientais que a obra traz, já que passa por uma das regiões mais importantes da Amazônia Ocidental, possuidora de uma grande área de floresta nativa, com ecossistemas muito valiosos. O professor Magnusson afirma que a região sofrerá drásticas modificações dos sistemas ecológicos e sociais com a pavimentação da rodovia, a qual representará a principal entrada para pressões de desmatamento no sul do Estado.
“A estrada parte perpendicularmente do chamado ‘Arco do Desmatamento’, na região da Amazônia que tem os maiores índices de deflorestação”, declara Magnusson. Por isso, ele considera importante que os conhecimentos sobre os recursos biológicos sejam transmitidos aos moradores locais para um planejamento mais eficaz em prol da conservação.
De acordo com o professor, o envolvimento com a comunidade se dá em vários níveis, sendo o principal deles o de capacitação por meio de cursos formais e do contato e trabalho em conjunto com os pesquisadores e estudantes. “Inicialmente, as comunidades contribuem como guias e ajudantes de campo, mas são treinados para poder atuar também como parataxonomistas. A longo prazo, a inclusão científica resultará em uma formação mais técnica que permitirá à comunidade um maior envolvimento na pesquisa, que busca informações nas espécies biológicas para identificar os benefícios que estas podem oferecer e convertê-las assim em produtos de consumo”, explicou o pesquisador.
Sítios de pesquisa
Para entender a distribuição da biodiversidade na área de influência da BR-319, os pesquisadores montaram, ao longo da rodovia, desde Manaus até a divisa com Rondônia, sítios de pesquisa de longa, média e curta duração. Processos ecológicos importantes são quantificados, monitorados e utilizados para apoiar a construção de cenários sobre a restauração dos serviços ambientais. Os resultados são passados à comunidade, por meio de visitas de campo e produção de material didático em linguagem específica.
Pretende-se que cada comunidade residindo próxima a um sítio de pesquisa seja responsável pela manutenção deste sítio, o que garantirá a inclusão da comunidade nas discussões sobre as decisões de uso e conservação da floresta. Junto com o trabalho de amostragem, os participantes do projeto treinam moradores e estudantes locais para o reconhecimento das plantas, árvores (madeira), animais e insetos. “É de extrema importância a participação dos moradores, porque se estes investimentos e conhecimentos não forem feitos com a participação dos moradores locais, os lucros serão exportados, e as comunidades não terão incentivos para a exploração racional dos recursos”.
Mais projetos
Além do projeto do pesquisador William Ernest Magnusson, o CNPq aprovou mais três, também em conjunto com a Fapeam, no total de R$ 1,8 milhão, sendo R$ 450 mil para cada projeto.
Atualmente estes projetos têm contribuído para promover e divulgar conhecimentos científicos e tecnológicos da Amazônia voltados para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais, em benefício principalmente da população regional.