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Artigo quantifica estoque de carbono de raízes em savanas do extremo norte amazônico

Uma pergunta frequente nos meios acadêmicos da Amazônia é quanto a importância ecológica das grandes áreas de savana da região. Estas áreas ocupam cerca de 200.000 km2 (~5%) de todo o bioma Amazônia e muito pouco se sabe sobre seus recursos naturais e a valoração dos serviços ambientais associados a estes sistemas (diversidade biológica, recursos hídricos, estoque de carbono). Como são áreas de pouca biomassa acima do solo, quase nenhuma atenção vem sendo dada a estes ambientes dentro dos inventários nacionais sobre emissão de gases do efeito estufa e estoque de carbono. Contudo, sabidamente as áreas de savanas são reservatórios naturais de carbono subterrâneo que é estocado na forma de biomassa de raízes. A quantificação do carbono das raízes pode ser facilitada pela obtenção do fator de expansão (razão root : shoot) que serve para estimar a biomassa abaixo do solo em função da biomassa acima do solo. Sendo assim, isso possibilita a quebra do paradigma de uso dos valores default que o Brasil adota nos relatórios oficiais enviados para a Convenção do Clima. Esses valores default são integralmente baseados nos raros estudos realizados no bioma Cerrado e em alguns fragmentos de cerrado do Sudeste do país. Portanto, não representam significativamente as áreas de savana da Amazônia.
 
Pensando nisso, durante o mestrado em recursos naturais da UFRR, Jhonson Reginaldo Silva dos Santos e Mariana Souza da Cunha, orientados pelo Dr. Reinaldo Imbrozio Barbosa (INPA), estimaram a biomassa acima e abaixo do solo de 34 parcelas permanentes de savana estabelecidas em duas grades do PPBio em Roraima (Cauamé e Água Boa). Todas as parcelas foram caracterizadas como savanas abertas de baixa densidade de árvores e situadas sob quatro classes de solo. Os resultados indicaram que até a profundidade de 100 cm, a biomassa total de raízes nestes ambientes pode variar de 21,4-29,5 t/ha (6,2-7,2 t C/ha). Levando em consideração o total estimado acima do solo, isso significa que a biomassa abaixo do solo (na forma de raízes) pode ser maior do que a biomassa acima do solo por um fator de expansão da ordem de 2,7 a 3,8 (ou 2,4 a 3,3 considerando o carbono). Assumindo a definição adotada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que define raízes apenas os fragmentos com diâmetro acima de 2 mm (abaixo deste teto o material seria considerado com parte do solo), os valores do fator de expansão seriam de 0,08 a 0,24 (ou 0,07 a 0,20 na forma de carbono) para ambientes não inundados. De qualquer forma, estes valores são diferentes dos estabelecidos pelo inventário nacional, representando com maior fidelidade os ecossistemas de savanas do norte amazônico. Além disto, indicam que indicam que na profundidade de 100 cm há uma quantidade de biomassa/carbono abaixo do solo maior do que acima do solo em áreas de savanas abertas não-inundadas do norte amazônico.
 
 
Desta forma, o estudo chegou a conclusão de que mesmo sob diferentes tipos de solo, os ambientes de savanas abertas (baixa densidade de árvores) possuem estoque de carbono de raízes muito similares entre si. Também foi possível concluir que a padronização de uma profundidade mínima amostral e o uso de valores regionais específicos para as razões root:shoot podem ser vantajosos, pois propiciam realismo no cálculo da biomassa e do carbono subterrâneo.
 
Os resultados deste estudo foram publicados na edição de agosto/2012 do periódico Australian Journal of Botany (referência abaixo). Para adquirir o artigo completo (em inglês) acesse a página do artigo da revista ou solicite por e-mail.
 
 
Barbosa, R.I.; Santos, J.R.S.; Cunha, M.S.; Pimentel, T.; Fearnside, P.M. (2012). Root biomass, root:shoot ratio and belowground carbon stocks in the open savannas of Roraima, Brazilian Amazonia. Australian Journal of Botany, 60(5): 405-416. doi:10.1071/BT11312.
 
Os metadados e dados desse estudo estão disponíveis no repositório de dados do PPBio e podem ser acessados através dos links abaixo: 
 
 
E os protocolos de coleta podem ser acessados no menu Métodos – Amostragem do Portal PPBio: http://ppbio.inpa.gov.br/manuais