Solos da Amazônia podem ser mapeados usando espécies indicadoras

Amazonian Fern

Diferentes espécies de samambaias requerem diferentes tipos de solo para crescer, de modo que sua presença pode ser usada para deduzir as condições do local. (Foto: Gabriela Zuquim)
Dr. Gabriela Zuquim
 
Gabriela Zuquim identificando uma samambaia na floresta amazônica. (Foto: Ricardo Braga Neto)
Canopy from above
A área da floresta amazônica é grande e pouco conhecida. (Foto: Gabriela Zuquim)

Solos da Amazônia podem ser mapeados usando espécies indicadoras.

 

A compreensão da ecologia e distribuição de espécies na Amazônia é dificultada pela falta de bons mapas digitais sobre condições ambientais, como certas propriedades dos solos. Dados de ocorrência de plantas são tipicamente mais abundantes do que amostras de solo, então pesquisadores da Finlândia e do Brasil desenvolveram um método que usa dados de plantas e solo para produzir um mapa de solo.

 

As medições de campo de fatores ambientais, como os solos, são até hoje poucas e não são bem distribuídas sobre a vasta Amazônia. Estas medidas são portanto insuficientes para o mapeamento acurado das propriedades do solo na escala de toda a bacia Amazônica, o que tem limitado o uso de propriedades do solo em estudos de grande escala. Para superar esse problema, pesquisadores da Universidade de Turku (Finlândia), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia --INPA (Brasil) e da Universidade Federal de Alagoas - UFAL (Brasil) decidiram aproveitar os dados de ocorrência de plantas, além do solo.

"Gerações de botânicos fizeram expedições à Amazônia e trouxeram espécimes de plantas que são depositados em herbários em todo o mundo. Com o GBIF e outros portais online, agora podemos acessar facilmente esses dados", diz a Dra. Gabriela Zuquim, colaboradora do PPBio e pós-doutoranda da Universidade de Turku, que liderou o estudo. "Então nós pensamos: talvez possamos usar essas ocorrências aleatórias de plantas para obter estimativas das propriedades do solo, colocá-las junto com os dados realmente medidos do solo e produzir um novo mapa do solo".

“Coletamos dados de campo sobre samambaias por um longo tempo, para usá-los como indicadores de solos e tipos de floresta na Amazônia”, diz a Prof. Hanna Tuomisto, líder do grupo de pesquisa da Amazônia da Universidade de Turku. “Após agruparmos as parcelas amostradas na Amazônia ocidental, amostradas pela minha equipe e na Amazônia Brasileira, amostrada por pesquisadores em parcelas do PPBio, tivemos as informações necessárias para converter os dados de ocorrência de espécies de samambaias em uma estimativa das propriedades do solo em escala Amazônica. Escolhemos samambaias porque elas tem uma forte associação com o solo, i.e. cada espécie tem uma preferência distinta de solo”.

Funcionou. O mapeamento foi baseado em 2.600 pontos de amostragem de solo e mais de 30.000 registros de samambaias de bancos de dados digitais. O método consiste em cinco etapas: 1) compilar os dados disponíveis, 2) determinar as relações espécie- solo, 3) relacionar os registros das plantas com suas preferências de solos, 4) interpolar os valores dos solos estimados usando os registros das plantas e 5) validar os mapas com dados independentes.

A validação usando um conjunto independente de amostras de solo obtidos do projeto RAINFOR através da colaboração com o Dr. Carlos Quesada do INPA, sugeriu que o mapa é preciso o suficiente para ser usado como uma camada digital para estudos de distribuição de espécies e modelagem de habitat.

“Isso também é relevante no contexto do aquecimento global: as espécies precisam rastrear áreas climaticamente adequadas, mas elas só serão capazes de se estabelecer se também os solos são adequados. Informações sobre os solos são necessárias para identificar e proteger as áreas adequadas do presente e do futuro ”, afirma a Dra. Juliana Stropp, da UFAL.

A Dra Flávia Costa, pesquisadora da CBio também participou do estudo e se diz muito feliz com a contribuição que um mapa de fertilidade de solos tem para as pesquisas na Amazônia: “O mapa de fertilidade de solo obtido será relevante em muitas aplicações, além da modelagem de distribuição de espécies. Estudos das respostas dos ecossistemas à mudanças ambientais podem agora incorporar este importante preditor, já que a fertilidade do solo afeta a dinâmica da vegetação e suas propriedades funcionais”.

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Gabriela Zuquim

Juliana Stropp

Hanna Tuomisto