Estudo com cupins contesta teorias populares sobre fisiologia e evolução

A velocidade com que um organismo consome energia é conhecida como taxa metabólica. Ela é importante porque dita a velocidade dos fluxos de energia através dos ecossistemas. Frequentemente, a energia total de um ecossistema está concentrada (sob a forma de matéria viva) em relativamente poucos organismos, como plantas e insetos. Assim, é importante saber o que determina a taxa metabólica desses organismos.

Atualmente, a teoria mais popular é a de que a taxa metabólica de todos os seres vivos é determinada pelo seu tamanho, sendo proporcional à massa corporal elevada a três quartos. Isto significa que a taxa metabólica aumentaria com o tamanho dos organismos, mas quanto maiores eles fossem, menor seria este aumento. Assim, 1 g de um organismo grande consumiria menos energia que 1 g de um organismo pequeno. Esta teoria, conhecida como “Regra de Kleiber”, é a base de muitas outras teorias em fisiologia, ecologia e biologia evolutiva. Porém, há suspeitas de que ela não seja tão universal quanto parece.

À luz disto, pesquisadores do Laboratório de Sistemática e Ecologia de Artrópodes Terrestres (LabArtro/INPA) e do Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (CENBAM) analisaram dados compilados da literatura das últimas sete décadas sobre cupins, insetos dominantes em muitos ecossistemas tropicais. Os resultados revelaram que a taxa metabólica aumenta mais rapidamente com o tamanho em cupins que comem madeira que em cupins que comem húmus, mas nenhum dos dois grupos segue a Regra de Kleiber. Como cupins são animais coloniais, os pesquisadores também investigaram como estas características estão relacionadas ao tamanho de suas colônias. Eles descobriram que cupins com colônias maiores geralmente também têm corpos maiores. Este achado contradiz a maioria das teorias sobre evolução de insetos sociais (como cupins e formigas), segundo as quais a evolução de sociedades maiores se daria pela “economia” no tamanho dos indivíduos, permitindo a produção de um número maior de indivíduos (embora menores). O estudo sugere que várias teorias biológicas aceitas atualmente necessitam de ampla revisão, possivelmente porque foram construídas com ênfase excessiva em abstrações matemáticas e pouca atenção aos padrões do mundo real.

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