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Pesquisadora do Inpa descobre substância inédita na literatura científica que pode ajudar em tratamento do câncer

Fonte: ASCOM INPA
 
Cecília Veronica Nunez, autora da pesquisa, afirma que ainda é preciso realizar todas as etapas pré- clínica e clínica, antes de poder ser usada como medicamento. A substância foi uma das sete patentes depositadas em 2012 pelo Inpa.
 
Por Raiza Lucena
 
A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Cecília Veronica Nunez, reconheceu em uma planta amazônica um alcaloide que possui potencial anticancerígeno. Podendo ser definido como uma substância de caráter básico, a pesquisadora explica as particularidades de um alcaloide: “Ele possui um átomo de nitrogênio ligado a um anel, sendo que a sua classificação é em função do aminoácido usado na rota Biossintética na qual é formado. Os alcaloides não são produzidos igualmente pelas plantas, há apenas algumas famílias de vegetais que os produzem, além de alguns microorganismos e animais”, explica.
 
O alcaloide encontrado foi extraído da planta Duroia macrophylla, popularmente conhecida como puruí-grande-da-mata. A espécie pertence à família Rubiaceae (a mesma do café) e possui um fruto comestível, porém não muito consumido. As pesquisas são realizadas há sete anos e em 2012 a substância fez parte da lista de patentes depositadas pelo Instituto. A pesquisa contou com o apoio de diversos projetos, entre eles: CT-Agro/CNPq, PPBio/CNPq, CENBAM/CNPq.
 
Duroia macrophylla 
 
Esse foi o primeiro estudo com a espécie: “Essa planta nunca teve nenhum estudo químico realizado. Muita gente fala sobre a floresta amazônica conter um grande potencial biológico e eu posso realmente afirmar que temos um potencial químico-biológico enorme. Ela forneceu um alcaloide inédito na literatura. Existe já o esqueleto, mas a posição como a estrutura está ligada é inédita, então ainda tem muita coisa a ser descoberta”, afirma Nunez.
 
Potencial anticancerígeno 
 
A pesquisa, iniciada em 2006, trata-se da coleta de material biológico, preparação de extratos e avaliação destes em diversos ensaios biológicos - procedimento chamado de bioprospecção, com a finalidade de explorar os recursos genéticos -, que neste caso foi a seleção de diversas plantas para a realização do fracionamento a fim de isolar as substâncias ativas. “Eu quis conhecer o potencial biológico das espécies amazônicas. Então com esse objetivo, coletei diversas plantas, não só da família Rubiaceae, mas de outras famílias de vegetais e esse extrato mostrou uma grande atividade”, explica. 
 
Já objetivando a busca de substâncias antitumorais nas plantas, o resultado veio após várias etapas de fracionamento na espécie. “Este alcaloide específico deu atividades sobre células tumorais de Leucemia humana, Adenocarcinoma gástrico (câncer de estômago) e Melanoma (câncer de pele), isso por enquanto em linhagens em células, ou seja, o ensaio in vitro. Ainda precisamos realizar os ensaios de todas as etapas pré-clínica e clínica”, destaca a pesquisadora. Ela ainda completa: “Pela alta atividade que esse alcaloide apresentou e pela baixa toxicidade em células sadias, existe um potencial muito grande, mas é prematuro dizer para já se utilizar a planta em tratamentos”.
 
A pesquisa, ainda em andamento, está dividida em duas frentes: a primeira é o estudo da planta para encontrar outros alcaloides minoritários com possíveis atividades ainda maiores e a segunda é a tentativa de obtenção da cultura de células da planta para uma produção maior deste alcaloide, já que a planta o produz em pequena quantidade, insuficiente ainda para passar às etapas in vivo. “Deu muito trabalho realizar o isolamento e a identificação estrutural do alcaloide, mas foi muito bom poder encontrar uma substância com esse potencial”, avaliou a pesquisadora.
 

 

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