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O curso de capacitação em identificação botânica, ministrado pelo Dr. Mike Hopkins (INPA) e colaboradores em dezembro de 2007 no Parque Nacional do Viruá (Caracaraí, RR), apresentou ampla e heterogênea participação de interessados em práticas de coleta e herborização de material botânico e identificação através de caracteres vegetativos das principais famílias botânicas de ocorrência na Amazônia.
O curso foi coordenado pela Dra. Carolina Castilho (EMBRAPA-RR) e foi realizado em parceria entre PPBio (Programa de Pesquisas em Biodiversidade), EMBRAPA-RR, INPA e PARNA Viruá. O conteúdo do curso foi estruturado em uma série de aulas teóricas e práticas de campo, incluindo técnicas de coleta de material botânico, registro de características vegetativas das espécies, e reconhecimento de famílias e gêneros.
Mike Hopkins (instrutor) Alunos do Curso Técnicas de Rapel
Dentre os 35 interessados, participaram do curso, técnicos e pesquisadores da EMBRAPA, INPA, MIRR (Museu Integrado de Roraima) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade); auxiliares de campo (comunitários) do PARNA Viruá, ESEC Maracá (RR) e REBIO Jarú (RO), e estudantes da UFRR (Universidade Federal de Roraima) e Universidade Cathedral.
Preparação do Guia Uso de Peconha
Abaixo foram transcritos alguns depoimentos dos participantes do curso.
Depoimento de Mike Hopkins (INPA) – instrutor:
“Roraima é um estado muito pouco conhecido botanicamente. Existem vastas áreas que nunca foram visitadas por botânicos, e as que foram são apenas superficialmente conhecidas. Mas em Roraima é prevista uma alta diversidade de espécies de plantas, principalmente a diversidade gama (número de espécies total numa área grande) que, devido à grande diversidade de ambientes deve ser muito alta. Estudos aqui encontrarão centenas, talvez milhares de espécies novas (ainda desconhecidas cientificamente) no estado”.
“Para captar conhecimento desta diversidade é preciso trabalhos direcionados para coletar plantas raras quando estão florescendo. Material coletado estéril (sem flores ou frutos) tem pouca utilidade para taxonomistas. Mas é difícil coletar espécies raras, não somente por sua raridade, mas também porque florescem brevemente, muitas vezes, com vários anos entre florações. Assim, expedições botânicos raramente acham estas espécies, que são difíceis de encontrar num estado fértil no curto período que uma expedição pode ter no campo”.
“Seria muito fácil treinar pessoas locais, que andam na mata diariamente, treinar seus olhos na busca por “novidades” (plantas férteis que eles não lembram ter visto florescendo antes), e assim fazer coletas de qualidade e úteis para a taxonomia. A Botânica básica, tão importante na região Amazônica, está ao alcance de qualquer pessoa motivada. Através de treinamento, um morador rural pode ser treinado e se tornar um “parataxonomista”, com conhecimento botânico suficiente para participar no processo de conhecimento da flora na sua própria região. Esta “socialização” da ciência botânica seria boa inclusive para “desmistificar” a pesquisa, que tem sofrido muito preconceito na Amazônia por falta de entendimento dos seus fins, e seria muito mais eficiente logisticamente e financeiramente que o modo de pesquisa convencional”.
Depoimento de Raimundo da Luz, o Grafite – auxiliar de campo do PARNA Viruá:
“O curso foi importante pra mim porque tive a oportunidade de aprender coisas que eu não sabia, e despertar mais interesse por conhecer as belezas que têm as matas e as plantas todas. A gente aprende a dar valor a elas”. “Agora a gente pode ter certeza quando vai fazer uma coleta, a forma de fazer um bom trabalho, observar o que falta, como a existência de flor e fruto. Para se ter uma boa coleta é preciso ter conhecimento e o curso trouxe um conhecimento sobre o uso de prensa, montagem de estufa, sobre detalhes que antes ninguém observava, como detalhes de folhas, .. um meio de identificação geral que vai facilitar muito o trabalho da gente que trabalha com coleta”.
Depoimento de Antonio Lisboa (ICMBio) – chefe do PARNA Viruá:
“Não basta ter trilhas de pesquisa, mateiros, logística, se não tiver o pessoal capacitado e estimulado. Cursos como esse são raros pois falta botânicos na Amazônia. E isso é um problema sério porque o saber tradicional também está se perdendo. E um mateiro é um potencial taxonomista. Por isso, a importância do trabalho do Mike, esse desprendimento que ele tem com o conhecimento, essa vontade de dividir pra multiplicar”.
“Essa é a filosofia do Viruá, socializar a ciência! Misturar gente, de todas as cores, todas as classes. Pesquisador, mateiro, funcionários, comunidade, todo mundo, fazendo ciência e juntando as idéias. A ciência não pode ser uma coisa confinada na Academia. Ela tem que ser viva. O conhecimento tem que sair do livro e chegar na vida das pessoas. E isso significa que não deve só voltar pra comunidade, mas também ser feito pela comunidade”.
Depoimento de Carolina Castilho (EMBRAPA-RR) – coordenadora:
A realização de um curso de capacitação botânica para um público tão diverso, que incluía desde mateiros até pesquisadores, foi desafiadora, mas mostrou que é possível integrar e compartilhar diversas formas de saberes. Esperamos que cada participante seja um agente multiplicador, ajudando na tarefa de caracterizar e conservar a diversidade vegetal do estado.
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