Além de grandes cantores da noite, grilos também são dispersores de sementes!

Uma grande proporção de dispersão de sementes em florestas tropicais é realizada por vertebrados icônicos tais como pássaros, morcegos, macacos e roedores.
 Mas no silêncio do dia, entre a serrapilheira da floresta, formigas humildes também fazem este trabalho. E muito bem! Seu trono como os principais dispersores de invertebrados não havia sido contestado até hoje. O estudo inédito "Busy Nights: High Seed Dispersal by Crickets in a Neotropical Forest” acaba de ser publicado no periódico científico The American Naturalist. Nesse trabalho, os autores mostraram a importância do papel dos grilos como dispersores de sementes de ervas terrestres. Eles são atraídos pelo mesmo tipo de sementes preferidas por formigas: sementes ariladas, o que significa sementes com uma parte carnuda anexa, que é consumida pelo animal sem danificar a semente. “Nós mostramos que, comparados às formigas, os grilos removem sementes em quantidades semelhantes e tendem, inclusive, a carregar sementes mais pesadas por distâncias maiores”, afirmou Flávia Santana, do PPG-Ecologia do INPA e uma das autoras do trabalho. Agora você pode perguntar: se grilos são dispersores tão visíveis, porque as pessoas não sabiam isso antes? O estudo ainda mostrou que a atuação dos grilos na remoção das sementes ocorre principalmente à noite, enquanto a maioria dos estudos de dispersão de sementes é realizada durante o dia, sugerindo que esse pode ser o motivo pelo qual a dispersão de sementes por grilos tem sido negligenciada. A nova janela aberta pelo estudo está cheia de questões não resolvidas: as noites são ocupadas com dispersão por grilos em todos os lugares? Todos os grilos são capazes de dispersar sementes? Quais as espécies de plantas são mais beneficiadas pela dispersão por grilos? O que está atraindo grilos para sementes ariladas? O estudo foi realizado nas parcelas da grade RAPELD da Reserva Ducke e se beneficiou de estudos anteriores realizados com ervas terrestres, formigas e grilos para resolver a taxonomia das espécies envolvidas.                                                                      
Os pesquisadores Fabrício Baccaro e Flávia Costa, ambos do INCT-CENBAM, também assinaram o estudo, que pode ser acessado em: http://www.amnat.org/an/newpapers/NovSantana.html.
 
Texto: Flávia Santana, Flávia Costa e Rafael Rabelo